segunda-feira, 29 de agosto de 2011

FORÇA, FRANCÊS

Foi em 2004, quando era setorista do Fluminense, que me aproximei de Ricardo Gomes. Logo constatei o que já ouvira a seu respeito: um raro exemplo de dignidade no futebol, mantendo fora de campo a elegância dos tempos de zagueiro. Um cavalheiro nas entrevistas, com a voz em volume de murmúrio, sem palavrões ou agressões, ainda que vivesse no olho do furacão de vaidades de um time que tinha estrelas como Edmundo, Romário e Roger.

Não demorou e Ricardo me apresentou ao seu maior troféu, o joelho deformado por uma contusão na juventude. Estava de calção, nas Laranjeiras, quando exibiu-o ao grupo de jornalistas com orgulho que nenhum outro teria. A cicatriz da cirurgia feita numa época de poucos recursos e o formato nada torneado do joelho só não impressionaram mais do que a sequela que constataríamos: era impossível fazer certos movimentos, e, apesar dos arrepios causados na ala sensível da imprensa, Ricardo ria compulsivamente, divertindo-se com sua própria dor e o incômodo que nos causava.

Posso dizer que ficamos amigos. Jamais me recusou uma entrevista, e teve o apoio dos meus ouvidos quando, já no Flamengo, telefonou-me, nervoso e atropelando as sílabas, para falar de uma briga que tivera com Dimba - cena que jamais consegui compor na minha cabeça, pois o doce e tímido Ricardo nunca foi homem de brigar feio por aí.

Troquei a reportagem de rua pela redação, Ricardo foi para a França, e de lá para cá só nos vimos uma vez, este ano, em São Januário. Há exatamente uma semana, no dia 22 de agosto, enviei-lhe um torpedo: "Meu amigo, depois de 23 anos, estou trocando O Dia pelo Extra. Conto com teu carinho e ajuda. Beijo".

Ricardo é inteligente a ponto de ser agradável num breve torpedo. E deve ter buscado lá no baú de suas recordações alguma confissão minha sobre a admiração pelo jornalista Renato Maurício Prado: "Parabéns. Como se você precisasse de ajuda. Você é a melhor. Terá uma coluna que nem o RMP em pouco tempo. MM 2014".

Aliás, sempre cismou de me chamar de "Eme-eme".

*****

Esse texto é pra você, Francês, que sempre reagiu ao apelido com um sorriso aberto, e nunca resistiu ao chamado dos filhos para uma fugidinha a Búzios. A Tijuca, a Barra, a França, o futebol, o Cristóvão e os amigos te esperam e, por favor, fique bom logo para saber da novidade que não te contei: você acertou em cheio, terei uma coluna. Que belos textos sejam escritos sob a inspiração das tuas vitórias. A primeira e mais importante é você sair dessa.

Beijo, força e saúde,
tua amiga MM te espera.

1 Comentários:

Às 29 de agosto de 2011 às 08:52 , Blogger cedro rosa musica disse...

Bonito, Marluce.
O Ricardo é um cara de primeira. Uma vez, em Portugal, numa viagem de negócios, me liga a secretária do presidente do Benfica, perguntando se eu era o Sr, Antonio Galante, amigo do Sr. Ricardo Gomes e a que horas eu poderia ser recebido pela diretoria do clube?
Veja isso...O prestígio do Ricardo e sua amizade.
Estou na reza para sua recuperação e parabens pelo seu texto.

Antonio Galante (que na música, é Tuninho Galante).

 

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