quarta-feira, 6 de abril de 2011

QUANDO A FLECHA VIRA ARCO


O fim do topetinho foi o primeiro sinal daquilo que os olhos não enxergam: o amadurecimento de Felipe. De flecha, o jogador virou arco, já sem a velocidade da juventude, mas com a visão inteligente de quem ocupa o seu lugar sem a vaidade do iniciante que quer resolver a parada na marra.

Conversamos longamente no início da tarde de segunda-feira, e, ao menos num ponto, o Felipe que abria sua casa para o MARCA BRASIL era o mesmo jogador do fim dos anos 90: a sinceridade, no limite de confundir-se com a rebeldia com causa, estava em cada uma de suas respostas na entrevista exclusiva a mim concedida.

O Felipe da foto que ilustra a coluna, tirada durante a passagem do time pelo México na vitoriosa campanha da Libertadores de 98, foi o que um dia detonou para mim o técnico Antônio Lopes, criticando-o principalmente pelas preleções monótonas. Levou uma chamada do ‘professor’ e, em vez de negar cada palavra escrita no jornal, confirmou toda a matéria, por mais constrangedora que fosse a situação.

O novo Felipe, agora menos risonho e longe de Ramon e Pedrinho, não tem medo de questionar o afastamento que lhe foi imposto no início do ano, quando o Vasco se arrastava entre a vergonha e a humilhação.

O tempo corrige agora a injustiça. Felipe estava em má forma física, e, enfim pronto, está deixando na cara do gol mesmo quem tem os mínimos requisitos para vestir a camisa do Vasco. Aos 33 anos, o menino descobriu que às vezes é mais importante ser arco do que flecha. O tempo levou seu topetinho, mas lhe trouxe sabedoria.

Texto publicado no Marca Brasil no dia 6 de abril de 2011

sexta-feira, 1 de abril de 2011

PORTA ABERTA PARA LOVE, JUAN E ADRIANO

Patricia Amorim abriu as portas da Gávea para Vagner Love. Embora o atacante tenha contrato com o CSKA até 2014, a presidente quer trazê-lo no segundo semestre. Pela mesma porta, o zagueiro Juan, da Roma, pode entrar. E, até, Adriano. A porta só não está aberta para Luxa sair. Em entrevista ao MARCA BRASIL, Patricia banca o técnico, com quem conversará hoje.

É real o interesse no Vagner Love?

É. Falei pra ele: você pode se considerar um interesse oficial do Flamengo. A gente vai tentar alguma proposta. Não vamos deixar isso morrer. O que nos ajuda é o fato de ele querer vir. O Love tem a cara do Flamengo. Já falei pra ele: “Se você voltar, farei uma exigência: trocar as trancinhas azuis pelas vermelhas”. Ele disse que isso é certo.

Como começou esse interesse?

Ele sempre me manda mensagens de texto pelo celular. E, dessa vez que veio ao Rio resolver uma pendência, falou pra mim: “Poxa, você tem que me fazer uma proposta”. A gente só não está falando sobre isso agora porque muita coisa vai acontecer. Estamos numa final de Estadual. Não é hora de criar expectativa.

Já conversou com Vanderlei sobre o Love?

Tenho conversado e a aceitação de toda a comissão técnica é muito boa.

Já acionou o marketing a fim de traçar um planejamento?

Ainda não, mas estou pensando nisso. Quando o jogador tem esse carinho, a gente tenta acelerar o processo. Com certeza, o Flamengo vai fazer uma proposta. Vamos tentar um acordo com o CSKA, mas não há como trazê-lo antes do segundo semestre.

A dívida com o jogador foi equacionada?

A gente vai parcelar o que falta. O total ficou em mais ou menos R$ 480 mil.

A vinda do Love seria uma forma de pagar uma dívida com a torcida que queria o Adriano?

Não vejo dessa forma, não. Não me sinto em dívida, pois o meu projeto era o Ronaldinho Gaúcho, que eu trouxe. Não havia um projeto para o Adriano vir. E as coisas no Flamengo não funcionam assim: “Agora saí, quero ir e tem que ser agora”. Trouxemos também o Thiago Neves, o Felipe e o Vanderlei Luxemburgo. Não posso me sentir em dívida. A vinda do Vagner seria mais pelo sentimento que ele tem pelo Flamengo. A torcida também gosta dele. Existe uma química.

Acha que o Vanderlei está sendo pressionado?

Acho. E ele não merece. O Flamengo não teve nenhuma derrota. Não se pode administrar um clube com essa paixão exacerbada do torcedor. A gente não pode comprar uma casa ou um apartamento se não tiver condição de pagar. Quer dizer que o Adriano decide voltar e o clube tem que mudar seus planos em função da sua vontade? Esse caso poderia ter outro desfecho se a coisa não tivesse sido tão atabalhoada.

O desfecho poderia ser a volta do Adriano ao Flamengo?

Na hora em que o clube estiver mais organizado, em outro momento, quem sabe? Mas, agora, ele nem pode entrar em campo. A gente não pode trabalhar com essa interrogação.

Não foi difícil organizar o clube após os problemas de indisciplina?

A palavra é reconstruir. Nossa postura agora é mais conservadora. Quando alguém pergunta ao Adriano sobre não faltar ao treino e ele responde que vai tentar, eu digo que a gente quer profissionalismo. A gente não quer voltar àquele tempo.

Você nunca foi incisiva no veto ao Adriano. Não acha que deixou o Luxemburgo exposto à torcida?

Cada um tem sua forma de dizer as coisas. Vanderlei tomou a postura de resolver e ser mais incisivo mesmo. Mas o que importa não é o que um ou outro pensa e, sim, o que foi feito. Sou mais calma. É a minha forma de me comunicar. Mas, claro, fico mesmo pensando: será que o Vanderlei foi duro e eu fui mole? Mas nosso jeito não mudou a ação.

Você tem como proteger o Vanderlei? Tem conversado com ele?

Amanhã (hoje), vou ao CT de manhã. Percebo que ele sente a minha falta. A gente se completa. Ele é incisivo, e eu tenho paciência de ouvir durante 50 minutos. Ele gosta de mandar, e eu acho isso interessante. Vanderlei deve estar se sentindo pressionado. Ele é Flamengo e fica mais vulnerável à emoção. Gosto muito dele.

Apesar da torcida, você está fechada com ele?

Vanderlei é o nosso técnico. É cinco vezes campeão brasileiro. Há outro técnico com esse currículo? É com ele que nós vamos. A torcida deve cobrar se as coisas não estiverem acontecendo. Tudo bem, a gente vem de três empates, mas não houve nenhuma derrota.

Gosta do time?

Às vezes, o time não se apresenta dentro da nossa expectativa, mas é um bom elenco que está se entrosando. Os jogadores estão motivados. Willians é a cara do Flamengo 2011.

O zagueiro Juan está nos planos?

É um sonho que não abandono e continua no coração.

Há alguma negociação avançada?

Ah, não está avançada, mas também não está parada. Só se for para o segundo semestre. Preciso correr, né (risos)? Já te respondi, pronto.

Está decepcionada por não ter conseguido um patrocínio master?

Depois que a gente fechar o contrato de transmissão, vai ficar tudo mais fácil. Tive uma boa proposta para a final da Taça GB. Seriam três marcas na camisa por R$ 900 mil. Será que valia o desgaste com os conselheiros? O Manto Sagrado merece cuidado. Não vai ser qualquer marca, não.

E a TIM?

Já foi aprovada no conselho e, se eu quiser, assino agora e coloco a TIM na camisa. Na hora em que tiver dificuldade financeira, coloco a TIM.

O que deseja para o Adriano no Corinthians?

Que ele consiga reencontrar o caminho do bom futebol dele. Para o talento aflorar, ele precisa de disciplina e treino.

Mas, se ele der certo, a pressão da torcida do Flamengo não aumenta?

Aí, será diferente. Com ele jogando bem, a gente vai poder pensar em trazê-lo de novo.

Entrevista publicada no Marca Brasil de 1 de abril de 2011